Padroeira de Torres

Neste nosso interesse em saber o mais possível sobre o passado da aldeia de Torres, também procurámos investigar o porquê da padroeira deste lugar ser a Nossa Senhora do Desterro. Não é fácil encontrar toda a informação pretendida; no entanto, soubemos que Nossa Senhora do Desterro é «o título católico dado à Santíssima Virgem Maria. Representa a fuga da Sagrada Família para o Egipto», quando, após a visita dos Reis Magos, um anjo lhes disse que fugissem, pois o Rei Herodes procurava o Menino Jesus para o matar. Sendo assim, a Sagrada Família foi como que desterrada, obrigada a ir para onde não queria, para proteger o Menino. Em Itália, esta Santa é muito venerada e é conhecida pela Senhora dos Refugiados e é, por isso, protetora dos desterrados, isto é, de todos aqueles que, por vontade própria, deixaram as suas terras para conseguirem melhores condições de vida, ou ainda daqueles que foram mesmo obrigados a deixar o seu país por motivos políticos, guerras ou razões diversas. A verdade é que todos esses partiram com o coração a sangrar porque tinham que deixar a sua terra, lugar donde, a maior parte das vezes, nunca tinham saído. Mesmo assim, partiam na esperança de tudo correr bem e um dia poderem voltar à sua terra natal para ver os seus, matar saudades, construir a sua casa, dar melhores condições de vida aos seus filhos e agradecer à Senhora do Desterro a proteção que sempre Lhe pediram.

No Brasil, a veneração à Senhora do Desterro existe desde a chegada dos primeiros portugueses, isto é, desde a descoberta do Brasil, que permitiu que muitos daqui partissem, mas não esquecessem a santa da sua devoção. São diversas as cidades brasileiras que têm, como padroeira, a Senhor do Desterro.

Sendo assim, é muito interessante e oportuno o nome da santa padroeira de Torres, pois também desta aldeia partiram muitos filhos da terra para procurar, além fronteiras, aquilo que na sua terra natal não conseguiam.

Pagela com oração à Nossa Senhora do Desterro

Na pesquisa que fizemos, encontrámos uma oração à Nossa Senhora do Desterro, que adaptámos; desse texto fizemos pagelas que se encontram na capela de Torres, e cujo conteúdo aqui deixamos para todos aqueles que, lá longe, mantêm viva a devoção à padroeira da sua terra querida.

Natália Loureiro

Sem bunho não há esteiras

A Associação Recuperar a Aldeia de Torres (ARAT), continuando o seu desígnio de regressar às origens e reabilitar o património arquitetónico e cultural da aldeia de Torres, partiu em romaria, no último sábado de julho, até aos arrozais e marinhas de Perrães, em busca do tão necessário – e difícil de conseguir – material: o bunho. Alguns sócios da Associação mobilizaram-se alegremente para se encontrarem com o artesão, senhor Paulo Ribeiro, que nos conduziu ao local onde existe esta planta. Quer as senhoras, quer os cavalheiros procuraram vestir-se à moda antiga, com chapéus de palha e munidos com a indispensável foice. O terreno era agreste e o bunho alto, verde e duro de cortar, mas entre cantigas do tempo das nossas avós (fruto de uma recolha realizada pela Associação) lá fomos cortando, fazendo os molhos e atando-os à moda tradicional, para depois serem transportados até à nossa aldeia de Torres.

Corte do bunho, que depois é atado, para se fazerem molhos
Sr. Paulo Ribeiro, artesão de Perrães, colaborador da Associação Recuperar a Aldeia de Torres

Terminada a árdua tarefa, o estrado da camioneta serviu de mesa para aí colocarmos os alimentos que antigamente integravam uma merenda tradicional (ovos cozidos, chouriço, presunto, azeitonas, bacalhau assado, boroa de milho e trigo e melão). Não faltou também o vinho branco e tinto e a boa água de Perrães. Aí, à volta de tão saboroso e reconfortante repasto, conversámos alegremente, recordámos tradições antigas e aprendemos com o senhor Paulo muitos ensinamentos relacionados com o tratamento do bunho até à confeção do produto final – as esteiras.

Com esta manhã de trabalho, foi assim alcançado o principal objetivo da nossa iniciativa: adquirir o material para as nossas artesãs de mais idade, que esperam ansiosamente pelo bunho para assim ocuparem as suas tardes de domingo e longas e solitárias noites de inverno, esquecendo a idade, as dores e recordando as alegrias da sua juventude.

Elementos da Associação Recuperar a Aldeia de Torres, amigos de Torres e o sr. Paulo Ribeiro

Iniciativas como esta enriquecem as nossas gentes do campo, ajudam a revitalizar as aldeias, não deixando esquecer o património pessoal e cultural que está em vias de desaparecer.

Artigo publicado no Jornal da Bairrada, a 13 de agosto de 2020.