Torres – notas históricas

Brasão de armas de Vilarinho do Bairro

A toponímia de Torres foi sofrendo alterações ao longo dos séculos. Primeiro, o lugar foi designado por “Turres”, mais tarde, “Torres de Barro” e finalmente Torres.

Torres pertence à freguesia de Vilarinho do Bairro, lugar em relação ao qual já existem referências na primeira metade do século XI. Vilarinho do Bairro estava integrado no bispado de Coimbra e as suas terras e rendas eram pertença das freiras do Mosteiro da Vacariça.

Fruto de pesquisa documental, descobrimos que foi senhor de Torres e Vilarinho o nobre Martim Lourenço da Cunha, quarto neto, em linha reta, da poderosa família dos Cunhas, Senhores de Tábua. Este fidalgo era casado com D. Maria Gonçalves de Briteiros, parente do rei D. Afonso IV, por ser bisneta de um filho bastardo de D. Afonso III. Por este motivo, e como forma de recompensa por serviços prestados ao rei, D. Afonso IV achou por bem conceder a Martim Lourenço da Cunha o Senhorio de Pombeiro (Arganil), que estava, até então, na posse da coroa. Assim, a 3 de fevereiro de 1355, D. Afonso IV fez a permuta da vila de Pombeiro pelos “lugares e torres do bairro e de vilarinho dapar desse lugar”, que eram pertença deste mesmo fidalgo Martim Lourenço da Cunha.

Tudo leva a crer que, a partir desta data, Torres ficou na posse da coroa até que D. Manuel I, em 1515, concedeu carta de foral a Vilarinho do Bairro e aos demais lugares aí referidos, o que se traduziu numa certa autonomia administrativa. Torres é nesse documento mencionado em primeiro lugar, como pagando ao rei rendas em vinho, linho e cereais.

Fontes bibliográficas:

Concelho de Arganil – História e Arte, Ed. Santa Casa da Misericórdia de Arganil, 1983.

Artigos de Coronel Silva Sanches, in jornal “A Comarca de Arganil”.

José Caldeira, Os Cunhas Senhores de Pombeiro – os que se ausentaram e os que ficaram.

José Augusto de Sottomayor Pizarro, Linhagens medievais portuguesas: genealogias e estratégias (1279-1325), vol. II, 1997

https://pt.wikipedia.org/wiki/Vilarinho_do_Bairro [consult. 23/01/2021]

Padroeira de Torres

Neste nosso interesse em saber o mais possível sobre o passado da aldeia de Torres, também procurámos investigar o porquê da padroeira deste lugar ser a Nossa Senhora do Desterro. Não é fácil encontrar toda a informação pretendida; no entanto, soubemos que Nossa Senhora do Desterro é «o título católico dado à Santíssima Virgem Maria. Representa a fuga da Sagrada Família para o Egipto», quando, após a visita dos Reis Magos, um anjo lhes disse que fugissem, pois o Rei Herodes procurava o Menino Jesus para o matar. Sendo assim, a Sagrada Família foi como que desterrada, obrigada a ir para onde não queria, para proteger o Menino. Em Itália, esta Santa é muito venerada e é conhecida pela Senhora dos Refugiados e é, por isso, protetora dos desterrados, isto é, de todos aqueles que, por vontade própria, deixaram as suas terras para conseguirem melhores condições de vida, ou ainda daqueles que foram mesmo obrigados a deixar o seu país por motivos políticos, guerras ou razões diversas. A verdade é que todos esses partiram com o coração a sangrar porque tinham que deixar a sua terra, lugar donde, a maior parte das vezes, nunca tinham saído. Mesmo assim, partiam na esperança de tudo correr bem e um dia poderem voltar à sua terra natal para ver os seus, matar saudades, construir a sua casa, dar melhores condições de vida aos seus filhos e agradecer à Senhora do Desterro a proteção que sempre Lhe pediram.

No Brasil, a veneração à Senhora do Desterro existe desde a chegada dos primeiros portugueses, isto é, desde a descoberta do Brasil, que permitiu que muitos daqui partissem, mas não esquecessem a santa da sua devoção. São diversas as cidades brasileiras que têm, como padroeira, a Senhor do Desterro.

Sendo assim, é muito interessante e oportuno o nome da santa padroeira de Torres, pois também desta aldeia partiram muitos filhos da terra para procurar, além fronteiras, aquilo que na sua terra natal não conseguiam.

Pagela com oração à Nossa Senhora do Desterro

Na pesquisa que fizemos, encontrámos uma oração à Nossa Senhora do Desterro, que adaptámos; desse texto fizemos pagelas que se encontram na capela de Torres, e cujo conteúdo aqui deixamos para todos aqueles que, lá longe, mantêm viva a devoção à padroeira da sua terra querida.

Natália Loureiro