Torres adere à tradição das maias

“Ai venham ver!…” Foi a canção que me veio à memória quando, ao percorrer as ruas de Torres, as vi enfeitadas com imensas grinaldas de giestas e flores. Tendo- se dado a coincidência do dia 1 de maio ser o dia da mãe, ser a festa anual na aldeia de Torres (festa em honra de Nossa Senhora do Desterro) e ser também a altura em que, em muitas zonas do país, se colocam maias à porta das casas, a Associação Recuperar a Aldeia de Torres (ARAT) resolveu lançar o repto à população da aldeia e congratula-se pelo facto da adesão ter sido muito significativa! A Associação quis envolver também os utentes do Lar e Centro de Dia da Poutena e as crianças e alunos dos Jardins de Infância e escolas da freguesia de Vilarinho do Bairro, sendo que estas instituições aceitaram a nossa proposta e participaram com empenho.

Embora a tradição das maias, na noite de 30 de abril, seja algo que está enraizado em muitas localidades do país – e mesmo no nosso concelho -, era algo que em Torres não acontecia. Por isso, a adesão que esta iniciativa conseguiu nas gentes deste pequeno lugar deixa-nos muito agradados, até porque tal atividade englobou trabalho em equipa, criatividade, ocupação do tempo (muitas vezes a horas tardias), o brio bairrista de querer surpreender os vizinhos e os visitantes, o dar a conhecer aos mais novos tradições ancestrais e pô-los em contacto com a natureza, e a valorização dos mais idosos, pelos seus  conhecimentos e experiência de vida, mais uma vezes reconhecidos como preciosos.

Estando esta tradição, desde tempos imemoriais, associada ao ritual de assinalar o fim do inverno e pedir proteção e fertilidade para a terra, e assim evitar a fome nas famílias rurais, a Associação quis dá-la a conhecer em Torres e gostaria que se tornasse uma iniciativa com futuro, transmitindo-se às gerações mais novas.

A ARAT expressa o seu profundo agradecimento às pessoas da terra e às instituições que aderiram a esta iniciativa, tornando deste modo os espaços, as casas e as ruas mais bonitos e floridos, o que atraiu a atenção dos forasteiros e convidados.

Natália Loureiro, pela Associação Recuperar a Aldeia de Torres

Apanha do bunho

A Lagoa de Torres, que tanto bunho produziu ao longo do século passado, não consegue atualmente satisfazer as necessidades das poucas artesãs da terra. Por essa razão, precisamos de ir buscar esta planta aos campos alagadiços de Perrães.

O bunho, já cortado e seco, é apanhado e feito em molhos.

Este ano não ceifámos o bunho, pois o artesão, senhor Paulo, que nos facilita a aquisição desta matéria-prima, resolveu que o serviço do corte devia ser feito por uma máquina. Assim, já depois de cortado e seco na terra, um grupo de associados dirigiu-se ao local para apanhar o bunho e com ele fazer molhos, que depois foram transportados para Torres e aí guardados.

O bunho, já em molhos, é carregado para as carrinhas.
Sr. Paulo, de Perrães, com um molho de bunho à cabeça, recriando vivências passadas.

O momento foi de franco convívio e, estando o trabalho concluído, partilhou-se uma merenda bairradina, com o privilégio de se contemplar uma bela paisagem, tendo de um lado campos de bunho e do outro verdejantes arrozais.

Desejamos ardentemente que o trabalho artesanal que será feito com este bunho possa ser visto e admirado na festa do bunho, que esperamos poder realizar no próximo mês de outubro, para alegar a nossa aldeia e recriar tradições ancestrais.

Apanha do bunho.