ALMINHAS DE TORRES

As Alminhas são lugares de culto, representadas em pequenas capelas, oratórios ou nichos. São fruto da religiosidade popular que acredita que as almas dos defuntos – necessitando de estar no Purgatório para se purificarem – só subirão ao céu se os vivos rezarem por elas, se estes derem esmolas e acenderem velas.

Estas são construídas com materiais da região e nelas podem aparecer representadas: almas do Purgatório em agonia, a Virgem, Cristo, Anjos, Santos ou ainda o Arcanjo S. Miguel.

As Alminhas localizam-se ao longo dos caminhos rurais, principalmente nas encruzilhadas. Situavam-se aí pois eram lugares de passagem, principalmente a pé, e assim havia da parte de quem passava um momento de recolhimento para rezar um Pai Nosso ou uma Avé Maria pelas almas do Purgatório; também era costume acender uma velinha, pôr umas flores, deixar uma esmola ou azeite para alimentar uma lamparina que iluminava as noites.

Alminhas do Joaquim Calado, em caminho agrícola (terras do Guerra)

As Alminhas são património dos lugares onde existem, fazem parte da vivência desse povo, da sua cultura, da sua religiosidade; são uma herança do passado e, por isso, devem ser preservadas. Infelizmente, o que nos apercebemos é bem o contrário disso: a maioria foi destruída e as que restam têm sido vandalizadas ou deixadas ao abandono.

Alminhas do Alto do Santo, R. das Areias

Nos séculos XIX e XX, havia imensas Alminhas construídas em Portugal, mas só do rio Mondego para norte. O lugar de Torres não fugia à regra, pois também era rico nestas construções. No dizer de uma habitante da terra, pessoa credível e defensora do património local, terão existido cerca de catorze, mas, infelizmente, na atualidade restam apenas seis e pequenos vestígios de mais algumas. São recordadas, por pessoas da terra, as seguintes: as Alminhas do Santo, as Alminhas do Joaquim Calado, as do Alto do Santo, as da tia Maria Quinteira, as do Santo António, as Alminhas das Loureiras, as Alminhas do Cabeço da Santa, as Alminhas do Carreiro, as Alminhas do Castelão, as Alminhas do Belchior, as do Moita e as do António Moreira.

Alminhas do Belchior, R. Principal

Três das Alminhas atualmente existentes foram recuperadas, nos finais do século XX, pelas juntas de freguesia de Vilarinho do Bairro e de Ourentã, a pedido de uma família de Torres. São elas as do Joaquim Calado, as do Belchior e as do Alto do Santo. Em relação às Alminhas de Santo António, devido à destruição da capelinha e à deslocação da imagem do santo para a capela de Torres, a sua perpetuação foi conseguida graças a uma família que construiu um nicho na parede exterior da sua casa, tendo colocado aí uma imagem de Santo António – honra seja feita a estes torrienses. De igual modo, as Alminhas do António Moreira são lembradas num nicho existente numa casa privada. Finalmente, ainda existem as Alminhas do Carreiro, situadas na Gândara de Alfeiteira.

Nicho que evoca as Alminhas do Santo António

A Associação Recuperar a Aldeia de Torres gostaria de fazer um apelo a todos os amigos da terra e aos seus responsáveis autárquicos para que se envolvessem e empenhassem na preservação e recuperação deste património, que poderia ser mais um ponto de atração para os visitantes e, quem sabe, o elemento fundamental para a criação de um novo percurso pedestre. Acima de tudo, permitiria conservar uma manifestação religiosa e genuína do nosso povo.

A Associação está disponível para colaborar neste trabalho tão peculiar e que faz parte dos objetivos desta jovem coletividade.

Bibliografia

Alminhas: Portugal foi o único país a criar estes monumentos, Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura – www.snpcultura.org/vol_alminhas.html

Nicho evocativo das Alminhas do António Moreira, R. de Trás
Alminhas do Carreiro, Gândara de Alfeiteira, na bifurcação de caminhos Vilarinho do Bairro – Banhos

Torres, ontem e hoje – registos fotográficos

Nesta fotografia, vemos à direita a mercearia local, propriedade da família Pinto, que respondia a todas as necessidades da aldeia em géneros alimentares, produtos e ferramentas agrícolas, possuindo ainda serviço de correio e telefone público. Lá no fundo, vê-se a capela. A estrada ainda não era alcatroada.

Trabalhadores assalariados, em frente à mercearia da família Pinto.

Estes trabalhadores preparam-se para ir sulfatar as vinhas da família Pinto. O sulfato ia na pipa, colocada no carro de bois.

Torres, Rua Principal, 2020

Continuamos a ver à direita a casa da mercearia da família Pinto, atualmente desabitada.A capela antiga já não existe. A estrada está alcatroada.

Largo da Capela, ladeado pela Rua Principal e pela Rua de Trás, 2020

A capela atual.