IV – Inverno
Normalmente, o inverno na Bairrada não atinge temperaturas negativas – embora por vezes se forme geada -, mas a chuva cai com frequência, enlameando os campos e os dias são pequenos e com pouco sol.
As árvores de folha caduca estão despidas e as videiras, que no outono tinham folhas multicolores, agora não têm nenhuma e, sem agasalho, na sua nudez, estão preparadas para “hibernar”.
Os agricultores ficam mais por casa, fazendo as atividades possíveis e necessárias nesta época: os homens preparam as vergas para atarem as cepas depois de podadas, provam e cuidam dos vinhos armazenados nos tonéis da adega, consertam alfaias agrícolas e ajudam na matança do porco. As mulheres cuidam da casa, põem remendos na roupa de trabalho, alimentam os animais domésticos e aproveitam e transformam a carne do porco depois deste estar morto, fazendo chouriços, morcelas, rojões e preparando toda a carne para ser conservada e assim poder servir de sustento à família durante meses.
A natureza está triste e as pessoas, sem sol, ficam um pouco deprimidas e com menos energia para trabalhar. À noite, fazem-se grandes fogueiras nas cozinhas e, depois da ceia, aproveita-se o tempo para conversar, rezar ou fazer rendas.
O Natal chega entretanto e, como que por magia, as energias aparecem e a alegria associada a esta época festiva dá prazer e genica para a preparação do presépio na capela, para a ida às novenas do Deus Menino e para preparar as iguarias próprias desta quadra natalícia, as quais hão-de deliciar novos e velhos.
A partir de janeiro, quer chova quer faça sol, é necessário ir podar as vinhas, isto é, cortar todos os ramos que estão a mais nas cepas; as restantes hastes das videiras irão ser atadas com verga (empa) para as fixar e assim permitir que os cachos fiquem bem expostos ao sol e não tenham a possibilidade de serem estragados pelo vento.
As mulheres apanham os ramos cortados – as vides – e com eles fazem molhos que irão ser usados nos fornos das casas que assam leitões, ou nos fornos dos lavradores para cozer a broa, assar chanfana ou leitão em dias festivos.
Continuamos a dizer que o vinho é a produção por excelência da nossa aldeia e, por isso, todo o trabalho ligado às vinhas é muito cuidado e todas as novas castas, técnicas e estudos ligados à produtividade e qualidade do precioso néctar são acatados com atenção e interesse por todos os torrienses, nos cursos de atualização ministrados pela Estação Vitivinícola de Anadia.