Os torrienses, e de um modo geral todos os agricultores da Bairrada, estão atentos ao progresso e à introdução de novas plantas que possam ser menos trabalhosas e com custos de produção e mão-de-obra mais acessíveis. Há mais ou menos trinta anos nasceu a cooperativa da Kiwicoop que entusiasmou os agricultores da Bairrada a cultivarem a nova planta do kiwi. Arrancaram-se muitas vinhas, deixou-se de semear muito milho e talvez até de se plantar muitos pinhais e eucaliptais, para serem ocupados grandes espaços de terra com a planta do kiwi.
Inicialmente só havia uma variedade desta planta, o kiwi verde, mas hoje já existem mais duas, as de fruto amarelo e também as de fruto vermelho, sendo que este último é bastante mais rentável.
Há famílias em Torres que fazem produção de kiwis, em alguns casos até com grandes quantidades de área cultivada. Fui assistir à apanha deste fruto, trabalho que se realizou no mês de novembro, com bom tempo e boa colheita. Sou grande apreciadora de kiwi e, por isso, posso afirmar com convicção que o kiwi bairradino é dos mais saborosos que já provei.
Acabou a vindima, lavam-se os baldes e, logo de seguida, estes mesmos recipientes vão ser usados para transportar a azeitona.
Desde longa data que os rendeiros pagavam, aos proprietários dos olivais, as rendas com azeite. Já no foral manuelino de 1515 é referido que Torres pagava ao rei com vinho, cereais e azeite.
Este ano, em meados de outubro, o tempo esteve bom, o que facilitou a apanha da azeitona, tarefa que se prolongou quase até ao final de novembro. Fui até ao olival da Odete Maia e do seu marido Mário – propriedade que fica muito próxima da Fonte da Cuba – e fiquei encantada, pois o olival, apesar de ainda jovem, estava carregado de azeitona. Os trabalhadores eram todos pessoas da terceira idade e por isso os proprietários do olival já usavam métodos mais modernos para rentabilizar o trabalho.
Apanha da azeitona: trabalho manual e com recurso a uma máquina que ripa o fruto
Como se pode ver nos vídeos, as oliveiras, ou são ripadas com uma máquina a motor (máquina essa que tem numa das extremidades uns ganchos, como se fosse uma forquilha), ou os ramos com o fruto são cortados e, no chão, em cima de toldos, são ripados com pequenos ancinhos. As azeitonas são de seguida recolhidas dos toldos (que foram espalhados antecipadamente debaixo das oliveiras) e colocadas em baldes, que serão transportados, em tratores, para os pátios dos lavradores. Aí, a azeitona irá ser ventilada para que as folhas da oliveira sejam separadas do fruto.
A azeitona é ventilada
Estando a azeitona já limpa, será levada para os lagares de azeite, onde o precioso líquido amarelo será extraído para consolo e satisfação das famílias portuguesas que, nas longas noites de inverno, o irão usar para temperar a couve troncha com batata e bacalhau.
No século passado, era usual os lavradores irem para os lagares com a sua azeitona e aí esperarem, noite dentro, até chegar a sua vez para fazerem o azeite. Por esse motivo, levavam bacalhau e batatas, alimentos que eram cozinhados no local e regados com o precioso azeite, acabado de ser extraído. Era um agradável – e saboroso! – momento de convívio.
Mas nem toda a azeitona tem este fim, pois há também quem reserve uma pequena parte para conserva. A azeitona, assim preparada, serve atualmente de aperitivo em restaurantes e nas mesas de muitas famílias portuguesas, mas, há décadas atrás, as merendas e até refeições dos trabalhadores rurais eram constituídas apenas por broa e azeitonas.
Tendo eu também algumas oliveiras, quis, este ano, experimentar fazer conserva. Muito provavelmente alguns de vós poderão recordar, através do vídeo, o que viam fazer às mães e avós.