Existem referências a Torres já na Idade Média. No Foral Manuelino de 15 de março de 1515, o lugar de Torres, devido à sua importância no pagamento de tributos ao rei D. Manuel, é o primeiro da freguesia de Vilarinho do Bairro a ser nomeado. Nele eram referidos os capões, os cereais, o azeite e o linho, como forma de pagamento.

Com o andar dos tempos, principalmente a partir do início do século XX, devido à emigração, primeiro para o continente americano (Brasil, Argentina Estados Unidos da América) e, mais tarde, a partir dos anos sessenta, para a Venezuela, Canadá, Austrália e alguns países europeus, como França, Alemanha e Luxemburgo, a população foi diminuindo, ficando apenas os mais velhos e muitas vezes também as mulheres com os seus filhos. Mesmo assim, estes teimavam em continuar a cultivar o vinho, o milho, o azeite e as batatas. A Lagoa de Torres era o lugar de lazer e de trabalho; de lá vinham grandes carradas de bunho que se utilizava para fazer estrume para as terras e também para o fabrico das esteiras. Aí, nos domingos e feriados, juntavam-se novos e velhos em franco convívio, jogando à malha, pescando enguias à sertela e cantando cantigas tradicionais.

Atualmente, a Lagoa de Torres já não atrai os seus habitantes como antigamente, e por isso as ervas daninhas e as canízias invadem as águas da lagoa, fazendo desaparecer as poucas plantas de bunho e junco que estoicamente teimam em resistir.

O lugar de Torres sobrevive, graças aos mais velhos e a alguns casais novos, ainda muito poucos, que descobriram que é muito mais saudável viver no núcleo da aldeia do que junto à estrada principal ou partir para os arrabaldes das cidades da região.

Foi para contrariar tudo isto que um grupo de amigos desta terra resolveu fundar uma associação – Recuperar a Aldeia de Torres – e começar a realizar atividades que trouxessem curiosos para conhecer as belezas que aqui se desfrutam. Realizaram dias abertos com atividades ligadas ao artesanato, às artes plásticas e à gastronomia e, o mais importante de tudo isto, foi a concretização da muito desejada festa do bunho e do junco nos dias onze, doze e treze de outubro de 2019. A população saiu à rua e tudo se transformou; os cruzamentos de estradas, as ruas e as casas foram engalanadas com plantas do campo, arranjos florais, colchas, objetos ligados às atividades agrícolas e as famosas esteiras que as nossas artesãs fizeram questão em executar. Os artistas plásticos quiseram estar presentes e as ruas e as casas em ruínas ficaram dignas de ser visitadas. Nunca em tempo algum tanto forasteiro veio até Torres. Todos saborearam os petiscos bairradinos e provaram o néctar desta região; os mais afoitos atreveram-se a dançar, aceitando o convite dos elementos do grupo folclórico ou subiram ao palco para fazer karaoke. Foram dias inesquecíveis que pretendemos repetir neste ano de 2020. Esperamos que a Senhora do Desterro, padroeira do lugar de Torres, nos proporcione este momento de convívio, uma vez que a festa anual, que devia ter sido no passado domingo, vinte e seis de abril, não se realizou. Juntamos a este singelo artigo algumas das fotos que entendemos serem mais elucidativas para que os que estiveram presentes possam recordar e os que não souberam ou não puderam vir consigam imaginar como foi. Continuamos a desejar fazer o melhor que pudermos e soubermos para tirar este lugar do anonimato, mas, para isso, necessitamos da colaboração e das ideias de todos os filhos da terra e amigos.

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