A importância das feiras na Idade Média

Já antes da fundação de Portugal existiam feiras, uma das quais foi criada pela rainha D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, em Ponte de Lima. As feiras, nesta época, além de possibilitarem as trocas comerciais entre o litoral e o interior, permitiam também a aquisição de produtos vindos de outros reinos da Europa, da África e da Ásia; assim sendo, alguns produtos tornavam-se inacessíveis para a maioria, pois as mercadorias chegavam principalmente por via terreste, com muitos dias de viagem e o pagamento de muitas portagens. Estas mercadorias chegavam às feiras graças ao trabalho e experiência dos almocreves e mercadores. As feiras eram vitais para o clero, para a nobreza e para o povo, pois era nelas que adquiriam tudo aquilo que necessitavam, quer géneros de primeira necessidade, quer produtos de luxo (sedas, veludos, perfumes, pedras preciosas, armas, especiarias, etc.).

Nas feiras tudo acontecia. Os nobres faziam torneios e liças para se exercitarem no manejo das armas e também para impressionarem as damas da corte. O clero vinha abençoar a feira e tecer rezas que dariam sorte e fortuna a todos os que a frequentassem. O povo trazia, para trocar, os produtos da terra, as suas aves de capoeira, os suínos, os caprinos e os bovinos. Vinha também para se divertir, bailando e cantando próximo do edifício religioso existente nas proximidades, pois quase sempre as feiras estavam relacionadas com festividades religiosas (são exemplo disso a Feira de S. Mateus ou a Feira de S. Miguel).

Os músicos também participavam, bem como os bobos da corte, os saltimbancos, os mendigos, as ciganas, os artistas de artes circenses e ainda os artesãos de vários ofícios.

As feiras eram anunciadas antecipadamente, em todo o reino pelos arautos, e o rei emitia a carta de feira que continha as normas, direitos, deveres e punições; dizia, por exemplo, que quer os mercadores, quer os compradores estavam protegidos na sua ida e no regresso da feira.

Era tal a importância das feiras para a economia local, sobretudo para o interior do reino que, por exemplo, o rei D. Dinis criou feiras francas, que não exigiam o pagamento de impostos, quer aos vendedores quer aos compradores. Exemplo disso é Vila Franca de Xira.

As feiras duravam pelo menos três dias e algumas até um mês (como a feira de S. Mateus). No primeiro dia, os produtos eram expostos pelos mercadores nas suas bancas. O segundo dia era reservado ao negócio desses mesmos produtos, sendo que os interessados podiam reservar o que pretendiam. No terceiro dia, os produtos eram levados pelos compradores que, em troca, pagavam com sacos de moedas, muitas vezes em grandes quantidades.

Em suma, uma feira era o local na época onde, durante dias e, como que por magia, tudo o que era importante acontecia e todas as novidades se sabiam. Muitos destes locais, onde as feiras se realizavam temporariamente, devido à importância que foram adquirindo, passaram a ser cobiçados pelos mercadores que aí fixaram as suas residências permanentes.

É importante que os professores despertem nos alunos a curiosidade por estes acontecimentos medievais que refletem um período de muitas dificuldades e carências de toda a espécie, um período tão diferente dos nossos dias em termos de recursos, de alimentos, de utensílios, de isolamento.

A partir dos anos 90, em Portugal, junto à Sé Velha de Coimbra, começaram a ser recriadas as feiras medievais; o público acorreu e ficou encantado com o colorido das vestes dos diferentes grupos sociais, com o chamamento do público através dos pregões e com o burburinho de pessoas e animais que tornavam este local tão peculiar.

Hoje, há feiras medievais de norte a sul do país, para regozijo dos que participam e dos que as visitam. A que é considerada mais importante é a que acontece na cidade de Santa Maria da Feira, povoação que nasceu graças à feira que aí se realizava.

Tudo o que referi sobre este tema é prova do regozijo e prazer que sinto por acolhermos, na Lagoa de Torres, e pela terceira vez, um evento desta natureza, organizado pela Câmara Municipal de Anadia e pela Junta de Freguesia de Vilarinho do Bairro. Entre 25 e 27 de julho chegarão a esta pacata aldeia forasteiros, de perto e de longe, atraídos pela possibilidade de vivenciar o período medieval através dos mercadores, dos atores e das atrizes, dos guerreiros, dos músicos e dos saltimbancos. O cenário envolvente – a Lagoa de Torres – muito contribui para tornar mais real a época que se pretende recriar.

Venham, tragam as vossas famílias e os vosso amigos para que a vivência deste evento seja momento de cultura, de diversão e de aprendizagens.

Natália Loureiro

Visita a Moçarria e Santarém

Um grupo de associados e amigos da ARAT deslocaram-se, no passado dia 28 de junho, a Moçarria e Santarém, a convite da Confraria dos Tanheiros (artesãos do bunho). A Associação tem uma relação muito próxima com esta Confraria, pois desde a sua fundação que se efetuaram contactos para recolha de informações ligadas ao artesanato e para que os seus elementos participassem na nossa Festa do Bunho – participação que já se concretizou, mais que uma vez. No decurso destes contactos, fizemos amizade com o artesão Artur Guedes, e atualmente compramos e divulgamos os seus objetos em bunho.

A Câmara Municipal de Anadia cedeu-nos gentilmente o transporte e o Presidente da Junta de Freguesia de Moçarria fez as honras da casa, mostrando-nos os principais pontos de interesse da freguesia e falando-nos das belezas e tradições locais. De seguida, visitámos o museu particular de antiguidades ligadas a vários ofícios do passado desta freguesia, espólio recolhido ao longo dos anos pelo artesão Artur Guedes, que muito impressionou os visitantes da Bairrada, fazendo-os relembrar a sua infância e juventude, pois também por cá eram usados muitos desses instrumentos de trabalho.

Homenagem aos tanheiros de Secorio, lugar da freguesia de Moçarria.
Em cima, o Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Moçarria e o artesão Artur Guedes Fonseca. Em baixo, o grupo visitante no museu pessoal do artesão Artur.

O dia esteve extremamente quente e o grupo procurou a frescura do restaurante local, onde almoçámos na companhia dos nossos anfitriões uma refeição bem confecionada e muito saborosa.

Depois de almoço, rumámos ao centro da cidade de Santarém, com o intuito de ver o Mosteiro de S. Francisco, no qual já repousaram os restos mortais do rei D. Fernando e da sua esposa D. Leonor Teles. Esta rainha está indiretamente ligada à nossa aldeia, visto que tinha sido casada anteriormente com o filho do nobre Martim Lourenço da Cunha que, por sua vez, foi senhor das terras de Torres do Bairro e Vilarinho dapar. Passámos também pelo Largo da Igreja do Seminário e procurámos refúgio da canícula na muito antiga e conceituada pastelaria Biju, onde provámos a doçaria tradicional acompanhada de uma bebida fresca.

Antes de regressarmos à Bairrada, deleitámo-nos com as vistas sobre a Lezíria e o rio Tejo a partir do Miradouro de S. Bento. Ficámos com a alma cheia e assim iniciámos a viagem de regresso.

O rio Tejo e a Lezíria ribatejana.

Para a maioria das associadas que realizaram esta visita, e que ainda trabalham arduamente a terra para obter o seu sustento, este dia foi certamente um momento de pausa, descontração e franco convívio. Eis alguns dos objetivos da Associação: transmitir a cultura e proporcionar momentos de recreação e lazer.