De 5 a 8 de outubro, a Associação Recuperar a Aldeia de Torres realizou, pela quarta vez, na aldeia de Torres, a festa cultural que dá destaque às tradições locais e à animação musical e que recebe a colaboração de artistas plásticos da Olga Santos Galeria, que trazem para os espaços da aldeia as suas criações artísticas.
As exposições presentes foram diversificas, uma delas recriou a casa bairradina de meados do século passado, onde não faltou a cama de ferro, o enxoval da família, os utensílios domésticos e agrícolas. Tivemos novamente a exposição de móveis recuperados, da nossa associada Lígia Castelão. Quanto à música, procurámos ter bandas com músicas dos anos 70, mas também tivemos uma noite de fados, com músicas de Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira, entre outros, numa lógica de preparação das comemorações dos 50 anos do 25 de abril. Uma novidade este ano, em termos musicais, foi a atuação de Ananda Roda que, cantando e tocando alaúde, transformou o espaço físico e acústico da capela de Torres.
As atividades do dia 5 de outubro foram dedicadas exclusivamente às crianças. Incluíram uma caminhada com a tónica de conhecer o bunho e o junco e saber como utilizá-lo, a presença da D. Lurdes Cêrca que, com a vivacidade das suas oito décadas de vida, deu uma lição aos presentes, falando dos seus tempos de criança em que não tinha brinquedos e em que, entre o apanhar comida para os animais e a ida à escola fabricava, em junco, os seus bonecos. Explicou a todos como tal se fazia, para que cada um executasse o seu bonequinho, ficando com essa recordação. As crianças tiveram também a oportunidade de contactar com um pónei, que puderam acariciar e montar, num misto de receio, alegria e superação do medo. Este dia rico em experiências terminou com o visionamento de um musical sobre a História de Portugal, feito por alunos do Agrupamento de Escolas Engenheiro Nuno Mergulhão, de Portimão.
No dia 6 de outubro decorreu a ceia bairradina seguida da emocionante noite de fados, pois todos sabiam cantar os fados dos anos 70, de Francisco José, Amália Rodrigues, Zeca Afonso ou Adriano Correia de Oliveira.
Nos dias 7 e 8, os arraiais foram ao ar livre e o calor fez-se sentir com muita intensidade, o que desviou alguns visitantes para locais mais frescos. Os que quiseram estar presentes tiveram o prazer de ver o artesão Paulo Ribeiro a fabricar as suas esteiras, de apreciar os espaços com exposições várias e de degustar pratos regionais ou saborear uma cerveja bem fresquinha em copos de grés. Desde os gaiteiros, às bandas “Triplex” e “Mais Coisa menos Coisa”, foi uma constante o relembrar de canções que fizeram parte da nossa juventude e por isso todos cantaram e dançaram com muita alegria e entusiasmo.
O momento alto do encerramento das nossas festividades foi a atuação da Orquestra Ligeira de Anadia, que deleitou todos os presentes. No final, tocaram o hino da nossa Associação, uma peça orquestrada pelo maestro Fausto a partir de uma canção da nossa querida avó Lucinda e com letra da sua bisneta, Ana Filipa Balancho. A todos os presentes foi dada a letra do hino para que o pudessem cantar, o que aconteceu repetidamente.
Para finalizar, queremos agradecer a presença da Sra. Presidente da Câmara Municipal de Anadia que sempre nos visita e que atentamente observa, quer as exposições dos artistas plásticos espalhadas pelos locais mais insólitos, quer os artesãos e os materiais expostos. Também e de igual modo nos alegrou e honrou a visita do Professor do José Pedro Negrão bem como do Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Vilarinho do Bairro. Muito querida e sentida foi também a presença do nosso associado Alexandrino Neto que, apesar de emigrante no Brasil desde a juventude, não esqueceu a sua aldeia natal e viajou até Portugal, de propósito, para estar presente, pela primeira vez, na Festa do Bunho e do Junco. A nosso pedido, declamou um poema de sua autoria que fala sobre a sua amada Torres, com tanto amor e saudade, que emocionou todos os presentes.
A Associação Recuperar a Aldeia de Torres espera continuar a realizar este evento, inovando a cada ano de forma a continuar a contribuir para a valorização da aldeia, impedir a desertificação, dar a conhecer a gastronomia, as artes, as tradições, sensibilizar para as intervenções necessárias no património – incluindo as casas em adobe – e trazer novas famílias para Torres, mesmo de outros países, como já hoje se verifica.