“Ricos-homens, gentis-damas e boas gentes deste povoado. Forasteiros, viajantes e demais povo que se ajuntou no adro desta capela, escutai o que irei proclamar.”
Assim anunciou o arauto, com rufar de tambores, a chegada do mui digno Infante D. Pedro, filho do rei D. Afonso IV, ao lugar de Torres. Tudo aconteceu no passado dia 4 de março, em Torres, por iniciativa da Associação Recuperar a Aldeia de Torres que tentou, com mais esta atividade, recordar e reavivar a história da localidade. Para tal, aproveitou uma lenda local, transmitida oralmente desde tempos imemoriais, que denomina alguns terrenos da localidade de Torres como o “Vale D. Pedro”. Recriou, assim, um episódio fictício, por altura de 1354, da passagem do infante D. Pedro pelas terras do senhor que à data detinha a sua posse, o fidalgo D. Martim Lourenço da Cunha que, por parte da mulher, D. Maria Gonçalves de Briteiros, era ainda aparentado com o rei D. Afonso IV. D. Pedro, acompanhado do seu séquito de fidalgos, damas e homens de armas, terá vindo para reconhecimento dos bons serviços prestados ao reino pelo dono das terras de Torres, D. Martim Lourenço da Cunha, e aí terá pernoitado em casa do seu anfitrião.
Aproveitando este contexto histórico, a Associação Recuperar a Aldeia de Torres promoveu uma ceia medieval, onde nenhum pormenor foi deixado ao acaso. Todos os intervenientes, fidalgos e gente comum, se trajaram à época, e foram receber a comitiva real, ao largo da capela de Torres. O fidalgo D. Martim Lourenço da Cunha congratulou-se pela visita do príncipe e recebeu-o com honrarias e um lauto banquete, nos espaços da Adega do Avelar.
O ambiente da época foi criado pelo grupo “Episódio”, que orientou as várias atividades da tarde e caracterizou o espaço com inúmeros adereços: peças de artilharia, ferramentas das várias artes e ofícios da época, espadas e adereços de combate. O arauto foi anunciando aos participantes os vários momentos da tarde: oferecimento à população de sardinhas e torresmos, atuação do grupo musical “Xamaril” e o jantar em honra de D. Pedro.
Todos os convidados se sentaram a uma longa mesa onde não faltaram os habituais petiscos da época; serviu-se caldo rijo e galinha mourisca, peras bêbedas e tigeladas, receitas recuperadas dessa época longínqua. Todo o ambiente foi medieval, desde os trajes dos comensais aos dos cozinheiros e empregados de mesa, passando pelos momentos de animação: para além da música, encenaram-se episódios relativos à desavença entre D. Pedro e seu pai D. Afonso IV, motivada pelos amores do príncipe pela dama castelhana D. Inês de Castro.
A noite estava fria e chuvosa, mas ninguém parecia querer deixar a Adega do Avelar. Foi, sem dúvida, uma noite fantástica em que as tradições e a história reuniram de novo as gentes de Torres, de agora e de outros tempos.
Pela Ass. Recuperar a Aldeia de Torres
Ana Filipa Loureiro Silva Balancho